29 de abril de 2011

Lusco-Fusco

            Espasmo de um grito berrando a um silêncio suprimido entre as paredes de um peito que não mais ouve. Quero o ardor de momentos em que impero e sufoco perante a ideia de juízo presente na razão.
            Corro ao lado desse sopro gélido que me faz arder nessa criatura deformada que me rasga a pele na aurora de raios virgens; refugio-me no obscuro da demência de ingénuos olhares como se tudo fosse efémero e cheio de relatividades.
            E grito para me esconder da moral de alma celeste e eterna.

Trapézio

            Afunda-se num mar de vozes: sussurros berrando contra barreiras do ar que respira retiram-lhe o fôlego, sufocando nos lençóis onde outrora fez deles abrigo. Sonhos. Desvanecem nas águas ardentes, onde olhares fumegantes espreitam o fim de uma alma perturbada. Sempre a achei estranha…
          Adormece no colo da deusa que chora perdida, pois nunca conheceu o seu perfume. Acorda cega e vazia sob as lágrimas daqueles que carregam o seu corpo pelas areias do tempo.

(Em Branco)

           Assombra-se o peito dessa luz que nele sufoca, tomando os seus pés a vontade de seu desejo satisfazer. Algo que se parte, algo que a desperta embebida em si…

           Adormecida. O que é mesmo?
           Junta-se o sono e o sonho e o medo e o ter e o querer à vontade de…

           Descrevo palavras em tons de qualquer coisa, rosa e risos. Oh, risos… Quantas noites brancas passei agarrada a ti!

           Mas afinal, quem é o anónimo?

Raízes Entreabertas

Foi o tempo. Uma coisa… Uma janela e as cordas molhadas. O imprevisto do inesperado. Foi a luz e a noite, um segredo. Basta!
           Um olhar? A janela. Atiro-me da janela, abraço o chão e agarro-me ao ar que me foge. Escorrego na mesma e caio. Levanto-me, escondo-me e caio. Vou cair…
           Caminho sobre farpas adoçadas, mas pode ser que não seja nada. “Vou andando…”

28 de abril de 2011

Espelho

Palavras descritas sob o veludo de amores silvestres, vertendo lamentos em mantos de ciúme e desespero.
               E quantas almas irei extirpar nessa melodia do infortúnio a quem todos cantam… Pois que venham os pobres e farei deles as pedras da calçada!
              Duplos caminhos se cruzam em cruzamentos encruzilhados, como se de pai e filho se tratasse...