16 de maio de 2011

Recantos Do Meu Jardim

        Canto leve a alma, balançando em seus pés frios as pétalas esquecidas nos vendavais de choro triste.
          Que calor, o perfume, embala a preguiça sua majestosa mortificação, abraçando em toda a sua largura e extensão o pudor assente na escadaria. Oh, que sede! O beber de ramos verdes a brisa quente da tarde solarenga, a luz que se esconde em seus cabelos longos! Aromas a rosas vermelhas e jasmim intoxicam o ar de beijos perdidos nas esquinas de gaiata brejeira.
          Desperta no riso tolo de andorinha enamorada, penduro-me nas suas asas e sobrevoamos os telhados ocos das vizinhas.

10 de maio de 2011

Controverso

      Noite. Quente no êxtase de amante louca, envolvida em lençóis de linho pela sede de beijos sequiosos que sufocam no segredo de carícias persuasivas. Um elixir baseado em éter de sensações esquivas num contra-senso de prazer e agonia, confusa entre as vozes e espectros enfraquecidos pela sua estranha forma de sedução.
      Fracções de tempo onde a espontaneidade de paixões fogosas se soltam de princípios. E no meio de doces remorsos esfriam. Um gosto amargo e seco na boca de almas tristes que se deixam deitar em camas ardentes pela luxúria de momentos dispersos no suor de corpos frios, esquecidos num gemido egoísta de prazer.


3 de maio de 2011

Carta: D.

           Com despeito se arrasta a seus pés, em súplica ao temor de seus olhos negros. Esse segredo oculto em passos inquietos, questionável no reflexo de um olhar desnudado.
           Num enlace de mãos, aconchega o peito ferido pelo desejo de não mais ser, mas sim ver algo mais do que apenas ser, alguém. Queria ser plena. Sua, plenamente tua.

           Encantado em seu sonho, seria capaz de verter lágrimas do mais duro rochedo apenas com a melodia da sua voz, entoando o canto de um choro de cigarra.
           E seria apenas mais uma (?) encoberta pelo sentido das palavras, escondendo aquilo que de seus olhos cegos espreita. Sim, cegos. Como eu… Ou serei eu mais cega que o próprio cego falado?

           O tempo. Falta-me a coragem… Este seria o seu último grito, expresso numa procissão de palavras agrestes, procurando o sentido que lhe falta em seu olhos flamejantes.